quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sobre Scott Pilgrim


Existe uma classe de pessoas que vive à margem da sociedade.
São pessoas discretas, tímidas, que aparentemente não se esforçam para ser o centro das atenções.
Elas ficam sempre no fundo, sem fazer muito barulho, sempre focados, como se vivessem no seu próprio mundo.
Pessoas que você nem ao menos nota a não ser que preste muita atenção.
Mas quando você presta atenção, essas pessoas conseguem se destacar até mais que as outras.
E é aí que elas te surpreendem de um jeito que ninguém mais consegue.
Porque... bem... elas têm super-poderes!

Essas pessoas também são conhecidas como...

Os baixistas!

E nada mais justo que o personagem principal da franquia (HQ, filme, video-game e bonequinhos) Scott Pilgrim seja dessa classe em particular!

Scott Pilgrim parece apenas um rapaz canadense comum.
Ele é desempregado, mora (e divide a cama) com seu amigo gay e não tem grandes pretensões na vida a não ser ensaiar com sua banda, o Sex Bob-Omb, e sair com sua namorada chinesa colegial, com quem o maior contato físico foi algo que ele ACHA ter sido um abraço. Isso até ele conhecer em seus sonhos - na verdade uma rodovia subespacial que funciona como um buraco de minhoca... nunca ouviu falar dela? - Ramona Flowers, por quem se apaixona antes mesmo de conhecer ao vivo. Mas para conseguir namorá-la, ele antes terá que vencer seus 7 ex-namorados do mal!!! Quem disse que seria fácil, hã?

É nisso que o filme, adaptado da HQ, se foca.
A velha história "garoto conhece garota", mas regada de referências a quadrinhos, mangás, jogos de video-game, filmes e séries de TV.
Mas diferente de filmes indies alternativos nerds, que usam essas referências para se ligar emocionalmente aos seus espectadores, Scott Pilgrim mergulha nessas referências em um outro nível! Elas deixam de ser "referências" e se tornam parte essencial do filme, tão importantes quanto a trama ou qualquer personagem! Isso se mostra desde os detalhes visuais, como o ding-dong da campainha até às lutas ao estilo Street Fighter. Desde a tela inicial com o logo da Universal ao estilo 8 bits e com direito a clássica música de sintetizador até à hilária homenagem ao seriado Seinfeld. Tudo se mistura à narrativa, como se o filme não pudesse existir sem isso.
É o que aconteceria se o filme não estivesse nas mãos do gênio Edgard Wright. É até engraçado notar que o ritmo insano e ágil de Scott Pilgrim já podia ser encontrado nos trabalhos anteriores do diretor, Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso (se você não viu qualquer um desses filmes, levanta a bunda da cadeira, para de ler este texto e vai alugar/baixar imediatamente!).
E impossível não dar mérito ao ator principal do filme, o tão amado quanto odiado Michael Cera. Depois de participar da maior parte dos filmes indie-comerciais como Superbad, Nick & Norah e Juno, o cara se prova em Scott Pilgrim (com toda certeza o mais indie dentre todos esses filmes). Seja nas cenas cômicas, seja nas cenas de luta, ele mostra que foi a escolha mais certa pro papel. Digo até que, assim como Scott Pilgrim personifica toda uma cultura indie, Michael Cera personifica o cinema indie, a caracterização do loser-pop como poucos conseguem fazer. Um dos grandes méritos do filme. Assim como TODO o resto do elenco, cada ator perfeito em seu respectivo papel!

O único problema é que, enquanto que o filme se foca na premissa que eu disse lááááá em cima, a HQ vai muito além disso.
Se no cinema a história de Scott Pilgrim se resume ao já citado "garoto conhece garota", os quadrinhos mostram A VIDA de Scott Pilgrim, sua busca por emprego, suas ex-namoradas, sub-plots que o filme foi obrigado a cortar para encaixar a história em 112 minutos. Aliás, coisa que fez muito bem, mas que perde pontos numa comparação.

Apesar disso, tanto filme quanto HQ falam da mesma coisa:
O medo de atingir a maturidade e a responsabilidade, e o fato de que o passado sempre vem nos confrontar de novo.
Posso até dizer que da pra encontrar imensos paralelos e simbolismos na história criada pelo quadrinista Bryan Lee O'Malley, mas aposto que ninguém aqui está com saco de ler isso...!
Quem sabe num próximo post. Ou não.

Outra coisa que é idêntica entre filme e HQ...
Nenhum dos dois foram feitos para todos os públicos.
Talvez isso explique o fracasso de bilheteria la fora e a dificuldade em lançar o filme por aqui em terras brazucas, ainda que num número limitado de cinemas. Mérito da distribuidora Paramont, que realmente se esforçou ao máximo em trazer o filme a nós, público brasileiro.

Enfim, na minha opinião Scott Pilgrim é o melhor filme do ano e, talvez, de repente, se pá, sendo bem ousado, a melhor adaptação de uma HQ já feita!
Ah, e definitivamente é a maior homenagem que se poderia fazer ao mundo dos video-games!

E não fale mal de Scott Pilgrim se quiser continuar a ser meu amigo! Há! #Brinks #NemTanto

Em toda sua despretensão, Scott Pilgrim é ÉPICO!!!


PS: corre atrás da sensacional trilha-sonora e deprima-se comigo pelo fato de que nunca veremos um CD exclusivo ou mesmo um show do Sex Bob-Omb...

=[

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3 comentários:

Renatinha disse...

Sem palavras para esse filme.

Willian Matos disse...

Nhah, não sei se pode ser considerada a melhor adaptação de HQs, mas que o filme é fantástico, ele é com certeza!

E por mim leva fácil o melhor do ano (mesmo sabendo que esse deve ir para A Origem)

Anônimo disse...

entrem ai
http://bookcomoum.blogspot.com/