domingo, 21 de novembro de 2010

Histórico


(por falta de tempo, a Renatinha não pode postar hoje... então, assim em cima da hora, espero conseguir passar pra vocês como foi minha noite de domingo)

Eu nunca assistirei a um show dos Beatles.

Essa é a frustação de qualquer fã de música nascido depois dos anos 60.
Nenhum de nós jamais assistirá a um show da maior e mais influente banda de todos os tempos, aquela que dividiu a história da cultura pop em dois tempos: o antes e o depois.
Então só resta me contentar com um show solo de um daqueles 4 rapazes de Liverpool.

Calma aí...
Como assim, "me contentar"?
Isso não faz muito sentido depois do que eu vi na noite de domingo, no estádio do Morumbi.

Marcava mais ou menos 9h40 no relógio quando aquele cara subiu no palco.
Quando você vê aquela figura na sua frente, a poucos metros de você, é necessário um pouco de tempo pra assimilar quem é. Porque apesar de ser um dos rostos mais conhecidos do mundo musical e de pouco ter mudado nas últimas 4 décadas (salvo as marcas da idade), é difícil por alguns momentos pensar que aquele homem está bem ali, ele é real, ele é de carne e osso. Confesso que ainda não assimilei isso direito.

Na minha frente estava Paul McCartney, a lenda viva.

E ainda que o público demore pra acreditar que está tão próximo do ex-Beatle, ele parece ter total consciência de quem é. À frente de cerca de 64 mil pessoas, entre cinquentões que viveram o auge da beatlemania até jovens que conheceram o músico por meio do jogo Rock Band Beatles, ele sabe o quanto vale, e entende o que o público que pagou pelo show quer ouvir, e mostra respeito pela própria história, e tem a noção exata do legado que criou para a música pop.
Mais que tudo, ele entende o que representa para o mar de gente que, de olhos fechados, cantava todas suas músicas, desde os clássicos do passado até suas empreitadas mais atuais.
É por isso que, aos 68 anos, ele não parece ter passado dos 20 e poucos. Depois das 3 horas de show, quando todo o público já sentia os joelhos doerem e os pés latejarem, ele ainda corria pelo palco e cantava sem uma gota de suor escorrendo pela testa, como se aquilo tivesse acabado de começar. De fazer inveja a qualquer jovem músico. Inacreditável.

Confesso que ainda não consigo detalhar exatamente o que foi aquele show.
Não tenho a capacidade de traduzir em palavras a emoção que foi estar la, tão perto do palco, entre uma infinidade de pessoas, jovens, velhos, famílias inteiras, famosos ou não. Antes de começar o show, nas arquibancadas o público se jogava na "ôôôôlaaaa", na pista pessoas cantavam todos os sucessos de cada álbum, na ordem cronológica... e no rosto de cada um, um sorriso. A certeza de que, mais que um show, aquilo seria uma festa, algo para se guardar para sempre.
Meu pai realizava um sonho que tinha desde que dançava "Hold Me Tight" nos bailinhos de muito tempo atrás. Meu irmão, que já tinha visto o show-reunião entre Paul e Ringo algum tempo atrás, mal conseguia controlar a ansiedade. Estavam comigo os dois responsáveis pelo que eu sinto por Beatles. Nem o anúncio iminente de chuva poderia atrapalhar aquela noite.

Mas nem a chuva quis se atrever a estragar o momento.

O show?
Ah, mas com o repertório dele, nem tinha como errar.
A viagem no tempo foi completa. Clássicos dos Beatles, clássicos do Wings, clássicos da carreira solo... não faltou nada. Nos intervalos, o músico se esforçava para agradar os fãs, seja comandando coros improvisados, seja falando em portugês. Tudo para mimar aqueles que já estavam na palma de sua mão.
Clássicos como "Band on the Run" (uma das melhores músicas já escritas), "Helter Skelter", "Live and Let Die", "Mrs. Vandebilt"... tudo fica melhor ao vivo! E principalmente pela perfeição da banda, com destaque para o baterista Abe Laboriel Jr.!
Mas nada te prepara para ouvir coisas como "Let It Be", ou "Eleanor Rigby", ou "The Long and Winding Road". Ou para "Here Todya", música escrita para o parceiro John Lennon. Ou para o emocionante tributo a George Harrison, com uma versão matadora de "Something". E para a versão de "A Day in the Life/Give Peace a Chance", um dos melhores momentos da noite.

Mas o que acaba com o mais duro dos corações é quando Paul senta ao piano e toca, sem aviso, sem que ninguém esteja emocionalmente preparado... "Hey Jude".
Ao final da música, o coro de 64 mil vozes cantava o famoso "naaaa, na, na, nanananaaa... nanananaaaa... hey Jude". Na minha frente, um garoto com não mais que 10 anos olhava maravilhado para tudo aquilo, criando uma lembrança para toda a vida. Do meu lado, meu pai, a pessoa que me ensinou a amar aquelas músicas, de olhos fechados e mãos levantadas, mostrava que a espera de uma vida inteira tinha valido a pena. Assim como o garoto da minha frente, eu também criei uma lembrança para levar comigo até o dia da minha morte.

Na platéia, uma garota segurava um papel com a frase que definia bem tudo aquilo:

"Paul, o sonho acabou... porque você o tornou realidade. Obrigado."

Eu não teria dito melhor.
Muito obrigado, Paul.

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4 comentários:

Marcelo Godoy disse...

Grande Post Renatinha! Ainda não consegui processar as informações na minha cabeça e em meu coração pra escrever no meu blog... será que ainda vai cair a ficha que eu ví o Paul McCartney a poucos metros e ouvi os acordes do seu Hoffner Viola Bass ou da sua Epiphone Les Paul Standard (da qual eu também sou um feliz proprietário), acho que não!

majv disse...

lindo. acho que li esse blog todo essa madrugada, ces nunca me decepcionam e continuam escrevendo super bem, tipo rolling stone review style msm. e achei mo legal ir pra um show do paul com a familia, deve ter sido____________________________
inveja, é só o que eu tenho pra dizer.

e queria dizer que ces deviam ler as revistas do pilgrim, eu baixei as revistas, genial. o filme é muito pouco em comparação.

grande abraço (:

Renatinho disse...

Esse não foi só o melhor show que eu já vi como o mais emocionante! O Paul passa uma energia tão vibrante e de amor pelo que faz que diverte e emociona todo mundo que o está vendo (admirando).
Eu achei que nunca ia chorar e sentir algo mais além de felicidade de estar em um show. É, eu nunca tinha ido em um show do Paul McCartney.

Renatinha disse...

Chorei em diversas músicas.
E a cada clássico eu pensava "Não ACREDITO".

Concordo com você em tudo.