segunda-feira, 28 de março de 2011

Casey


Ele ficou conhecido como “Gordinho Zangief”, por causa do personagem do jogo Street Fighter, mas seu nome verdadeiro é Casey Heynes.
Incomodado por um outro garoto, ele acaba perdendo o controle, vira o garoto de ponta cabeça e o joga no chão. Enquanto o garoto sai mancando, Casey se vira calmamente e vai embora.

O vídeo do episódio, colocado no YouTube logo depois, virou sensação da Internet.
Casey, de 15 anos, se tornou uma celebridade instantânea, do tipo que surge a cada semana na rede. Mas, ao invés de ser apenas motivo de piada e montagens mundo afora, Casey conheceu um outro tipo de fama..

A de um herói.

Vitima de gozações por toda sua vida, devido principalmente ao seu peso, ele finalmente revidou. Após engolir todos os tipos de provocações e agressões, ele não suportou mais e, no fim, acabou se tornando um exemplo a qualquer um em sua situação.
E, de um exemplo, tornou-se um herói.

É interessante ver a comoção causada pelo episódio.
O bulliyng, palavra que serve para denominar o tipo de agressão que Casey sofre diariamente, finalmente está se tornando foco de discussões. Livros, programas jornalísticos, séries de TV, filmes..
E tudo o que eu consigo pensar é:

Onde vocês estavam no MEU tempo?

Esse assunto se torna pessoal para mim porque eu sofri tudo isso nos meus tempos de colégio.
O garoto estranho e inseguro, que passava o intervalo lendo ou ouvindo música no fundo da sala, que não conseguia se relacionar direito com ninguém. Um alvo fácil pra qualquer um que quisesse se divertir com alguém mais fraco, qualquer um que quisesse se sentir melhor consigo mesmo às custas de outra pessoa.
Sim, eu era um alvo fácil.
Quem mandava eu ser como eu era, eu era o culpado por tudo aquilo que acontecia comigo.
Eu era o único culpado pelo que acontecia.

Confesso que isso era exatamente o que eu achava.

Entendam uma coisa, no bullyng o pior não é a humilhação, as surras, os insultos.
O que te mata por dentro é a sensação de se estar completamente indefeso, a vergonha, a submissão. Essa é a verdadeira humilhação. Ser agredido, física e psicologicamente, e não fazer nada, e se ODIAR por não fazer nada. É a sensação de que, por aceitar aquilo calado, você merece tudo aquilo. Afinal, você fez por merecer. Você é fraco, não é?! Você é estranho, não é?!
Então aceite.
Calado.

Vou contar uma coisa que eu não costumo contar.

Teve um dia, durante um intervalo entre as aulas, que eu estava sozinho na sala, sentado na minha mesa, lendo uma revista, como eu costumava fazer para me manter longe de problemas.
Eles então entram na sala, andam até a minha mesa e arrancam a revista das minhas mãos. Aí eles seguram meus braços, me arrastam pela sala, me levantam e, rindo, me colocam dentro da lixeira. Tudo isso numa fração de segundo. Enquanto tudo isso acontece, um grupo de garotas, reunidas no corredor, vê aquela cena e ri. Entre elas, uma garota que eu gostava, que eu considerava minha amiga. Quando eles vão embora, gargalhando e me xingando, eu faço exatamente o que eu podia fazer: levanto, limpo a sujeira e, silenciosamente, volto para a minha mesa. E a aula recomeça.
Só quem passa por isso entende a sensação que é ser tratado como lixo.
E só quem passa por isso pode entender o que isso faz com o espírito de uma pessoa.

Para a minha sorte, eu tinha a melhor família do mundo, e os melhores amigos do mundo.
Mesmo que eu não contasse isso pra ninguém, eles estavam la, me ajudando a me sentir melhor comigo mesmo, me ajudando a rir, de mim e do mundo.
E se eu passei por tudo isso com um pingo de sanidade, foi por ter aprendido a rir. Se eu sorrisse, mesmo no pior dos dias, então eu sabia que eu conseguiria passar por tudo aquilo. E, num passe de mágica, tudo ficava bem.
Então eu sorria.

E isso fez de mim a pessoa que eu sou hoje.

Acho que, no geral, tudo o que eu passei me tornou uma pessoa melhor.
Sei que muitos dos meus problemas têm origem naquela época, muita merda que eu faço é um reflexo da insegurança que o meu passado moldou em mim, mas ainda acho que eu sai no lucro.
Tem uma história que diz que dois prisioneiros estavam em um campo de concentração nazista. Fracos, magros, humilhados e indefesos. Então um deles começa a rezar. O outro pergunta “o que você está fazendo” e ele diz “eu estou agradecendo a Deus”. O outro então pergunta pelo que diabos ele pode estar agradecendo, e ele diz:
“Por eu não ser como eles”.

Independente do que eu passei, eu me sinto agradecido, por um simples motivo.

Por eu não ter sido como eles.

Foque nos dias bons, mantenha o queixo erguido e lembre-se que a escola não irá durar para sempre.
Segundo Casey, é isso que ele diria para os milhares de garotos que passam pelo mesmo que ele.
Eu acho que é exatamente o que eu diria.

Ah, e sorria.

Sempre.

.

8 comentários:

Renatinha disse...

te amo

Ollie disse...

Cara, tu, que é tão descolado lá no fórum, passar por algo assim?

Caramba!

Te digo uma coisa: realmente ce não foi o único, e é preciso coragem pra compartilhar uma experiência dessas.

Já passei por coisas parecidas, talvez não na mesma intensidade, mas o conceito, infelizmente, é o mesmo.

Queria saber se você me dá licença para postar seu texto no Estação Jamzai.

Nos vemos no Dimensão Nerd.

Gabriel disse...

Eu sempre fui gordo. Sempre. Menos quando tinha uns 5 anos. Mas desde que me lembre.

Isso, atraves dos anos, com as gozações, brincadeiras e xingamentos só tiraram toda a confiança que eu (devia) ter.

Me dou bem com gente parecida comigo. Mas na escola? era diferente. Qualquer coisa é motivo de piada e gozação. O cabelo diferente, a camiseta preta de banda, ou o tênis. Qualquer coisa é motivo de humilhar o outro.

E é como o caso, eles só mexem porque nunca revidam. E fui assim a vida toda, sempre calado.

Pensando bem, até hoje é assim. Acontece mais na rua, por desconhecidos. Mas que seja.

Só sei que tudo isso que sofri na infância e adolescência me fizeram o que sou hoje: calado, tímido e confiança zero.



miau é isso aí.

Denis Araujo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Denis Araujo disse...

Você acaba de dizer tudo. Uma pena o Casey não ter aparecido naquele tempo em que eu arrumava todo tipo de briga na escola pra me defender. Uma pena não ter existido um Casey na mídia pra que o bullying fosse melhor tratado e resolvido em todas as épocas em que todas as pessoas maltratadas sofriam.
Você é demais cara! Sou seu fã!
Um abraço lindão!

Anônimo disse...

Parabéns pelo ótimo texto e por dividir sua história com as pessoas, cara. No dia em que assisti o video pela 1ª vez, não dei risada. Foi como ver o final de um filme do John Hughes sobre adolescente loser que, no fim, se dá bem. Fiquei feliz pelo Casey, como se ali estivesse eu mesmo. Por um momento, me senti vingado. Então o video acabou. Ganhei um ídolo, mas não deixei de sentir a dor.

Douglas Funny disse...

Achei!!

Realmente não tinha visto esse texto... estranho... enfim.

Querendo ou não, a internet facilitou a comunicação e o entendimento desse problema. Mais e mais pessoas começam a reclamar disso... tava na hora de alguém transformar em um estudo, avaliar o q a garotada enfrenta nesses dias.

Não preciso falar que seu texto é muito bom, não só pelas informações, mas pela coragem de falar de si... e melhor, encorajar a não se vingar e fazer o mesmo.

Você é um exemplo... e meu herói.


Sucesso.

Julia Vieira disse...

Quando eu vi,pela primeira vez, o vídeo que mostrava o "gordinho zangief" batendo no outro garoto,primeira coisa que veio na minha cabeça foi a seguinte frase:"Se não quer que faça contigo, não faça com outros". Aquele menino que batia no gordinho mereceu a agressão(mesmo não sendo correto o que o zandief fez), na minha opnião, o gordinho zangief só fez isso porque estaria já cansado daquele menino no seu pé o tempo todo...

Minha professora de redação iria adorar esse site...
Seguindo :)