domingo, 20 de março de 2011

Angles


(Avisando que, como a Renatinha comeu poeira e não teve tempo de escrever o texto de hoje, a crítica do CD do Strokes fica por minha conta.. HÁ!)


Confesso, eu sinto saudade de quando o Arctic Monkeys era uma banda mais pop, menos sombria, cantando sobre garotas mimadas em pistas de danças e se divertindo com isso. Não que o Arctic Monkeys de hoje seja ruim.. ele é apenas um outro Arctic Monkeys.

Um amigo meu diz que ele gostava muito mais de Radiohead na época pré-Ok Computer. Ele entende que a banda evoluiu, procurou outros caminhos, atingiu uma certa maturidade criativa.. mas ele só prefere o Radiohead de antes.

Minha mãe gosta do Roberto Carlos. Mas principalmente da fase “Jovem Guarda”. A fase romântica é bacana, tem umas músicas lindas.. mas o que ela gosta mesmo é do Roberto roqueiro, dirigindo seu calhambeque, parando na contramão pra paquerar o broto displicente e levando tapas no cinema.


Esse é o espírito do novo álbum do Strokes.

Não é necessariamente ruim, tem umas músicas muitos boas..
Mas não é o Strokes que eu queria.


Há 5 anos atrás, depois de lançar seu 3º CD, o First Impressions of Earth, os integrantes da banda resolveram dar um tempo uns dos outros, por conta de um relacionamento já desgastado. Nas palavras do próprio Julian Casablancas, montar uma banda é a melhor maneira de acabar amizades. Assim, foi cada um pro seu lado.
O guitarrista Albert Hammond Jr. continuou seu elogiado projeto solo. O baterista Fabrizio Moretti juntou a namorada e o Rodrigo Amarante e formaram o Little Joy, banda que também teve participação do ex-companheiro de banda Nick Valensi, que por sua vez também gravou com Regina Spektor e Devendra Banhart. O baixista Nikolai Fraiture montou sua própria banda, o Nickel Eye, e o vocal Casablancas gravou seu ótimo álbum solo. E ficou claro que cada integrante quis manter uma certa distância musical do estilo Strokes em seus projetos.

O problema é que esse distanciamento não ficou apenas em seus projetos solos.

Neste novo álbum, Angles, a banda resolveu tirar das mãos de seu vocalista o monopólio criativo sobre as músicas e cada um contribuiu como bem queria. Daí o nome do álbum, mostrando que cada música mostraria um ângulo diferente dos Strokes.

E é aí que mora o maior problema do disco.

A visão do Julian criava uma certa unidade às músicas, unidade que simplesmente não existe mais. Não existe mais uma cara, uma identidade, o que existe são colagens, músicas que ficariam ótimas em um outro álbum que não um do Strokes.
"Machu Picchu" e "Two Kinds of Happiness" soam algo como um Phoenix (banda que sempre assumiu se inspirer no quinteto novaiorquino), enquanto que "Gratisfaction" bebe da fonte do Queen. "Call Me Back" tem um começo que mistura uma pegada Little Joy do Moretti com 11th Dimension, single solo do Casablancas. "You’re So Right" e "Metabolism" têm um peso incomum, enquanto que "Life is Simple in the Moonlight" é – pasme! - praticamente uma bossa-nova.
Ainda assim, Angles tem 3 legítimos momentos em que o Strokes não tenta ser nada além do Strokes. "Taken for a Fool" e "Games" poderiam se encaixar muito bem no 2º álbum do grupo, o Room on Fire. Isso sem falar na fantástica "Under Cover of Darkness", que reúne todos os elementos que fizeram do Strokes o que ele é, como se fosse uma colher de chá da banda aos fãs.

O único “retorno à fórmula” que Angles traz talvez seja o tempo de duração.
Diferente da pretensão dos 52 minutos do álbum anterior, o Strokes voltou aos 30 e poucos minutos dos dois primeiros álbuns, o que acaba sendo seu maior mérito. Desse jeito, o ouvinte sente vontade de repetir o álbum desde a primeira música e assim tem mais chances de se acostumar com essa nova cara da banda.

A gravação do álbum foi tensa, com várias mágoas ainda guardadas, cada um gravando sua parte no seu canto, uma experiência horrível segundo os próprios músicos, que eles não pretendem repetir no próximo álbum – que já está sendo devidamente planejado. Pelo menos, ao que parece, o prazer de tocar junto voltou à banda.
Em entrevista, o guitarrista Nick Valensi afirmou que ele sente que os Strokes ainda têm seu maior álbum guardado dentro deles, esperando para ser colocado para fora.
Eu, como fã, queria ver o Strokes do começo dos anos 2000 de volta. O Strokes despretensioso, com guitarras sujas, músicas simples e diretas e simplesmente divertidas.

Repito que Angles não é um álbum ruim.
Tem ótimas músicas, é corajoso no sentido de ir contra expectativas (para o bem ou para o mal) e sacia um pouco a sede por material inédito.
Mas a minha esperança é que o próximo álbum do Strokes seja, diferente de Angles, exatamente o que o nome diz:
Um álbum do Strokes.

É pedir demais?

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