quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Terça-Feira dos Vampiros


O público lotou, ainda que lenta e timidamente, o Via Funchal nessa terça-feira.
Desfilando seus modelitos milimetricamente hipsters, com as músicas na ponta da língua e energia de sobra para dançar a noite toda.
A bem-vinda ausência da área VIP permitiu que os fãs se aglomerassem à frente do palco, ansiosos para assistir uma das bandas mais celebradas do chamado "cenário indie", e os mais animados já pulavam ao som que o esquizofrênico DJ tocava, de "Alagados" do Paralamas a "Nosso Sonho" do Claudinho e Buchecha.

Ainda assim, mesmo com o clima de jogo ganho, o Vampire Weekend ainda tinha um desafio nada fácil pela frente, o mesmo que deve encontrar a cada apresentação que faz:
Mostrar, ao vivo, cada textura, cada mistura e cada camada das suas músicas gravadas em estúdio. Violinos, percussão, piano, corais, tudo ao mesmo tempo, coisa demais para apenas quatro garotos.


E afinal, Brancatrolha, eles conseguiram?

Hmm, em parte.


Pela primeira vez em terras paulistanas após um show no festival MECA, em Porto Alegre (e sobre o qual você pode ler clicando AQUI), a banda abriu o show com a energética Holiday, já convidando todo o público pular. E foi o que o público fez.
O que se viu depois, na falta de um termo melhor, foi uma grande micareta!
Como se ainda precisasse conquistar o público, o Vampire Weekend interagiu com o público o show inteiro, comandando o "backing vocal" da platéia em hits como Cape Cod Kwassa, M79, Cousins, A-Punk e Oxford Comma.
Isso sem contar Giving Up the Gun, provavelmente a melhor música ao vivo da noite.
Pelas minhas contas, a banda só não tocou Taxi Cab e The Kids Don't Stand A Chance, mas que podiam muito bem ter sido encaixadas, já que o show durou cerca de 1h10, que ainda passaram voando.


Ah, mas então o show foi foda, né?!

Bom, sim e não.


Ok, foi um bom show sim. A banda é ótima, as músicas são ótimas.
Mas ouvir as músicas ao vivo, sem toda a produção que as músicas tiveram no álbum.. acaba ficando uma sensação de que faltou algo.
Várias músicas são tocadas em cima de bases prontas, por conta da percussão complexa. Instrumentos são dublados pelo sintetizador do teclado, músicas ficam mais lentas do que deveriam ser. E em meio a tanto som artificial, alguns instrumentos acabavam ofuscados durante certos momentos. A bateria perdia o poder, o teclado perdia o tempo. Casos raros, mas que aconteceram.

Na minha humilde opinião, o Vampire Weekend é uma das melhores coisas surgidas no cenário musical nos últimos anos. A mistura entre afropop, Peter Gabriel, rock, ska, Paul Simon, reggaeton, batidas tribais e punk (e mais um monte de coisa) é um ponto de originalidade em meio a tanta mesmice, um tipo de música corajosa e criativa que, por sua qualidade, conseguiu sair de Nova York (antro da mistura e diversificação) e alcançar o mundo.
Mas esse show, por mais divertido que tenha sido, me provou que eles são uma banda de estúdio perfeita, quando eles podem inventar e misturar o que eles quiserem.. só que no palco a situação acaba sendo bem diferente.

O show do Vampire Weekend é exclusivamente para os fãs.
A banda só conseguirá atingir a maturidade quando as qualidades criadas em estúdio não se tornarem as falhas em cima do palco.

Ainda assim, difícil achar um só fã que não saiu do Via Funchal com um sorriso nos lábios.

Inclusive eu.

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Um comentário:

Renatinha disse...

Told ya. Agora pensa tendo visto um show FODA antes...