terça-feira, 18 de maio de 2010

Sonhos, Planetas e Pipocas...


(Texto antigo, beeem antigo... mas que, de tão atual, eu resolvi postar por aqui. Espero que, quem não leu, goste e talvez até se identifique - o que eu, sinceramente, não recomendo muito.)

Anos atrás, quando eu era apenas uma pequena criança marota, lembro que meu sonho era ser pipoqueiro!
Eu via dia pós dia aquele moço, parado na porta da escola, vendendo pipocas doces e salgadas, com bacon ou torrões de açucar, as quais minha mãe nunca deixava eu comprar para não estragar meu apetite para o almoço. Sim, eu era uma criança frustrada por não poder comer pipoca ao final de uma cansativa manhã de aula, assumo isso sem medo. Alguns se frustram por não saberem assoviar, ou por irem mal em matemática. Apesar de eu não saber assoviar naquela época e ser péssimo em exatas, eu me frustrava por não poder comer milho estourado!
Foi quando eu jurei vingança à uma sociedade que não me compreendia me tornando... pipoqueiro!
Eu tinha a certeza de que um pipoqueiro levava uma vida boa, comendo quantas pipocas quisesse, e colocando a quantidade de bacon que bem entendesse dentro do saquinho!
Sim, esse era meu objetivo de vida...

Anos depois, eu decidi que queria ser astrônomo!
Comprava livros e livros sobre o universo, planetas, matéria escura...
Fui o primeiro da minha turma a decorar a ordem certa dos planetas no nosso sistema solar (o que talvez explique meu desespero ao saber que haviam excluido Plutão do grupo)...
Isso também criou uma enorme fixação pelo tema de vida alienígena e tornou-me fã assíduo de Arquivo X!!!
Até que alguém destruiu meus sonhos, dizendo que astrônomos precisam ser bons em física, matemática e outras coisas insuportáveis.
Provavelmente foram meus pais... eles adoram cortar o meu barato.

Anos mais tarde, eu decidi ser jornalista!
Claro, afinal, eu escrevia bem. Eu podia não ser muito bom em matérias realmente úteis, mas minhas redações temáticas "Minhas Férias na Vovó", "Meu Pai, Meu Herói" e "O Melhor Passeio Pelo Zoológico da Minha Vida" eram grandes sucessos literários na minha classe.
Por que não escolher uma profissão em que tudo o que eu precisasse saber seria ESCREVER?
Meu irmão já era jornalista nessa época e... bem, ele ganhava algum dinheiro, tinha um certo respeito, ia a festas badaladas, ganhava dezenas de CDs todo mês e vivia em um lugar onde só não é bem informado quem não quer.
Até que eu lí uma reportagem que ele precisou fazer em 10 minutos sobre um cara o qual provavelmente nem a própria mãe se interessava.
Será que eu realmente queria passar a vida escrevendo sobre pessoas que eu não dava a mínima? Será que eu quero entrar em um emprego que paga mal, não te dá fins de semana e ainda te obriga a escrever em 10 minutos um texto sobre um zé-ninguém que poderia cair morto sem ninguém chorar???

Algum tempo depois, eu decidi ser publicitário!
Ok, eu não decidi. Na verdade, sempre foi tradição enchermos a casa de mensagens escritas em papéis a cada aniversário de alguém por aqui. Colamos bem cedo, antes do aniversariante acordar, no armário, na porta da geladeira, no espelho do banheiro, na tampa da privada, na cadeira da cozinha. E enquanto minha mãe sempre prezou pelos básicos "Feliz Aniversário" e "Muitos Anos de Vida", eu preferia passar a madrugada pensando em alguma coisa que surpreendesse quem estivesse lendo. Mensagens engraçadas, ou que realmente significassem alguma coisa... algo que valesse a pena ser lido, e não parecesse a mesma mensagem do ano anterior... Calma, eu prometo que essa história tem a ver com o assunto...
Em um aniversário do meu pai, meu irmão não conseguiu parar de rir com alguma coisa que eu tinha escrito. Foi então que ele disse "poxa vida, Thiago... vc devia tentar ser publicitário." Provavelmente ele nunca vai se lembrar de ter dito isso, mas pra mim aquilo realmente significou alguma coisa. Eu era um garoto prestes a prestar o vestibular e não tinha a mínima idéia do que me interessava. Talvez esse fosse o caminho.
Prestei publicidade, entrei na faculade e... percebi que certamente NÃO era isso que me interessava! O que só foi comprovado durante o período do meu primeiro emprego em uma agência.
Não que eu fosse ruim, ou não soubesse fazer o meu trabalho.
Eu simplesmente percebi que não gostava daquilo!
Nem. Um. Pouco.

E foi então que eu resolvi ser músico!
Escrevi letras, escrevi musicas e arranjei mais alguns loucos que aceitassem me seguir em uma banda.
Até que eu percebí que talvez ser músico não seja uma decisão muito racional.
Para conseguir fazer algum sucesso não basta ser bom, não basta ter algum talento...
É preciso principalmente sorte!!!
Como alguém que colocou o nome da própria banda de Projeto Murphy pode querer ter a sorte de conseguir viver apenas fazendo música? Será que vale a pena apenas tentar algo que aparentemente já está fadado ao fracasso?

E daí eu resolvi ser escritor!
Digitei 63 áginas de texto no Word, mandei para alguns amigos e até recebi boas críticas!
Sim, talvez esse fosse o melhor caminhoa ser seguido...
Até que a única coisa que começou a passar pela minha cabeça foi: por que diabos alguém que não me conhece iria pegar um livro escrito por Thiago Brancatelli em uma Saraiva ou Cultura e gastaria nele seu precioso dinheiro, além do tempo de leitura?
Não consegui encontrar nenhuma resposta que não fosse "arma apontada na cabeça", "uma capa muito bacana" ou "único livro na prateleira".


Eu leio livros e percebo que eu nunca vou ser tão bom quanto meus autores favoritos.
Eu assisto a filmes e percebo que nunca vou escrever diálogos tão bons quanto aqueles.
Eu vejo anúncios em revistas ou comerciais de TV e percebo que nunca vou criar algo tão genial.
Eu leio reportagens e percebo que nunca vou ser capaz de escrever aquilo de uma maneira melhor.

Será que vale a pena tentar?

Eu não tenho pretenção de ser rico, ou mesmo famoso.
Eu não tenho pretenção de amar o meu emprego, ou mesmo de me orgulhar dele.
Eu não tenho pretenção de ser o melhor no que eu faço, ou mesmo de ter o cargo mais alto.

Eu só queria me interessar por alguma coisa que me sustentasse!

Decidi não decidir mais nada até ter algum sinal de que isso realmente vale a pena.
Pode ser por preguiça, pode ser por frustração.
Eu só preciso saber se existe alguma coisa que vale a pena.

A maioria dos meus amigos sabe em que eles são bons, e até gostam do que fazem.
Eu não faço nem idéia do que fazer com o meu futuro.

Hei, quanto será que custa um carrinho de pipoca...?

5 comentários:

Willian Matos disse...

Hum... gostei deste post, ele foi bem sincero Branca. Sábado a gente conversa!

Renatinha disse...

Nemli...


Digo, jáli!


=D

Renatinho disse...

Me identifiquei, só não tenho coragem de ir procurar outra coisa como você ta fazendo.
Meu sonho quando criança era ser mágico por causa de umas apresentações que passavam todo domingo no Fantástico, brigava com os meus pais pra poder ficar acordado até tarde para ver o grande David Cooperfield!

Mirele disse...

quando eu era pequena eu queria ser professorinha de escola em roça. acho que eu assistia muito pica-pau...

alguns muitos anos depois ainda tou tentando descobrir o que eu quero fzer, mas o futuro não parece muito promissor... cinema? acho que me meti numa cilada...

Julio Anderson disse...

Quando eu era moleque, eu achei que ia ser matemático, quase fui pra escola de aviadores e hoje to aqui, mas tenho certeza que não fazer isso pra sempre. O bom é que a gente sempre pode mudar...

... só acho que você não devia ter recusado o convite do grupo de sapateado.