quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Batman de Frank Miller


(Post dedicado ao Fran, ao Gabriel, ao EJT e a outros nerds por aí...)

Poucas pessoas podem se gabar de serem divisoras de águas.
E do mesmo jeito que o mundo se divide entre A.C. e D.C., o mundo de Batman se divide em A.F. e D.F.

Antes e depois de Frank Miller.

Desde os anos 70, depois de amargar fases cômicas e ingênuas, o herói estava tentando voltar às suas origens sérias pelas mãos da dupla Neil Adams e Denny O’Neil.
Já consagrado devido a sua passagem pelo título do Demolidor, Miller foi chamado pela DC para revitalizar seu personagem que mais havia sofrido devido ao código de censura americano e à perseguição promovida pelo psiquiatra Fredric Wertham. Mas como alterar de forma tão drástica um personagem icônico que fora criado como um detetive violento que não se importava em deixar os criminosos morrerem, mas que passou a ser um personagem cômico e ridicularizado?

A resposta está em O Cavaleiro das Trevas, que mostra o futuro de Gotham City, dominada pelo crime e com um Batman violento, masoquista e... que se diverte com tudo isso!
A HQ mostra o confronto definitivo entre o Batman e o Coringa, além da luta final entre o Homem Morcego e o Homem de Aço (também cientificamente conhecido como Superman).
Naquele momento, qualquer lembrança do Batman preso em uma supergeringonça e se salvando ao tirar do cinto algo extremamente conveniente (“Oh, meu Deus, estou preso nessa guilhotina que se ativará assim que aquele rato roer a corda e soltar a lâmina. Ainda bem que eu estou com meu bat-dissolvente de correntes e meu bat-queijo!”) foi apagada e devidamente substituída pela imagem brutal de um personagem perturbado e até com certos requintes de crueldade.

A série, claro, foi um sucesso, principalmente por ter sido lançada quase que simultaneamente com outro divisor de águas, Watchman, do roteirista Alan Moore.

Logo depois, Frank Miller se juntou ao desenhista David Mazzuchelli e criou a origem definitiva do herói, Batman – Ano Um. E todas as histórias do personagem escritas depois dessa fase se baseiam nessas duas histórias.

E quando já estava no topo do mundo, Frank Miller resolveu criar sua própria série pela editora Dark Horse, o sucesso Sin City. Enquanto isso, ao longo da década de 90, os quadrinhos resolveram se tornar mais violentos e sombrios (em grande parte por influência da obra do sr. Miller), onde o que importava eram os músculos dos heróis, o sangue-frio dos anti-heróis e os corpos das heroínas. Foi a época em que fizeram sucesso personagens como Wolverine, Elektra, Venom e Justiceiro, e que culminou na criação da Editora Image.

Na DC isso não passou batido. O Arqueiro Verde se tornou sombrio (e depois morreu), o Lanterna Verde enlouqueceu (e depois morreu), o Aquaman teve a mão decepada, o Superman morreu (e depois voltou). Personagens femininas como Mulher Maravilha e Mulher Gato eram desenhadas com formas completamente desproporcionais, para atrair a atenção masculina. Mas e o que fazer com um personagem que já era a personificação da escuridão? Bem, vamos torná-lo ainda mais sombrio. Ao menos essa roupagem combinava bem com o personagem...

Foi então que aconteceu o que todos esperavam... mas não da maneira que todos esperavam.

Frank Miller anunciou que voltaria a escrever o personagem que o alçou às alturas. Mas não seria uma história qualquer, ou mesmo um título regular. Seria a continuação da série que havia escrito 15 anos antes, O Cavaleiro das Trevas. A notícia, claro, dividiu opiniões... assim como a continuação em si. Com um roteiro confuso e desenhos estranhos, Miller criou uma espécie de “anti-Cavaleiro das Trevas”, com um visual colorido e um clima baseado nas histórias dos anos 60. Cavaleiro das Trevas 2 não é uma história ruim, mas é impossível ler uma página sequer sem compará-la à história original. E comparar QUALQUER COISA com Cavaleiro das Trevas é simplesmente uma grande covardia.

De lá pra cá, Frank Miller se tornou uma espécie de pária para alguns leitores, mesmo para alguns de seus fãs mais fiéis. Depois de Cavaleiro das Trevas 2, ele disse ter interesse em escrever uma história que envolveria o Batman versus o terrorista Osama Bin Laden, entre outras excentricidades. Tornou-se diretor com o filme baseado em sua criação, Sin City, apenas para enterrar sua carreira cinematográfica cometendo a sua péssima visão do clássico Spirit.

Com o lançamento da linha All-Star da DC que visava a criação de histórias fora da cronologia normal, foi anunciado que a série do Batman seria escrita por Miller e desenhada pelo pop-star Jim Lee, motivo de euforia da maioria dos bat-fãs. Mas o roteirista resolveu aproveitar a liberdade dada pela linha All-Star para mudar tudo no Homem Morcego. Ele agora é um verdadeiro fdp, que profere palavrões enquanto quebra os ossos de bandidos e amedronta um jovem Dick Grayson, mesmo que este tenha acabado de ver seus pais morrerem. A versão “Dirty Harry” do personagem não agradou a maioria dos leitores, mas já foi anunciado que a série deve continuar por muito tempo...

Frank Miller já passou da fase de se preocupar com a opinião dos outros. Muitos leitores dizem que ele apenas procura agora chocar o máximo de pessoas possíveis com seus roteiros grosseiros e cada vez mais pessoais. Como por exemplo criando um Batman violento, masoquista, perturbado, brutal, com requintes de crueldade e que se diverte com tudo isso!

Do mesmo jeito que ele chocou o mundo há mais de 22 anos, com a criação do clássico definitivo do Cavaleiro das Trevas.

E já devíamos ter aprendido que, enquanto Frank Miller continuar com esse desejo de chocar os admiradores da sétima arte... nós, os leitores, só temos a ganhar.

4 comentários:

Renatinha disse...

Num entendo nada de nada! hahaha

Carlos EJT Vázquez disse...

Estou emocionado... snif...

Gabriel disse...

Excelente, Thiago. Me lembrou que não li ainda Ano Um nem Cavaleiro das Trevas 2 (apesar de ter lido coisas nada boas). Cavaleiro das Trevas é uma obra-prima e gosto demais desse estilo do Miller "banho de sangue" como em Sin City.

Lucas disse...

Eu queria evidenciar minha participaçào nos eventos.