terça-feira, 2 de junho de 2009

Vamos Voltar à Pilantragem...

"Eu era neném
Não tinha talco
Mamãe passou açúcar em mim...!"



Imagina só a cena...

1969.
Maracanã lotado.
Não para um clássico Fla-Flu, e sim para o show do músico Sérgio Mendes.
No palco, um só homem rege descontraidamente um coral de cerca de 30 mil pessoas, com a confiança de quem sabe ser o artista mais popular do Brasil.

Não, não era o Sérgio Mendes.
O homem que tinha todo aquele público nas mãos era um negro de origem humilde, chamado inicialmente para abrir o show, mas que acabou se transformando na atração principal.
E seu nome, no auge do sucesso, foi estranhamente esquecido nas 4 décadas seguintes.
Ou, pra ser mais exato, completamente APAGADO!

O nome?
Wilson Simonal.

Estreiou há algumas semanas o documentário Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei, do trio de diretores Calvito Leal, Micael Langer e (do Casseta) Claudio Manoel.
Dividido em 3 partes, o filme mostra o reinado absoluto de Simonal na década de 60, passando pelo episódio que destruiu sua carreira e culminando numa espécie de "redenção".

Explico: no começo da década de 70, o cantor suspeitava que estava sendo roubado pelo seu contador, Raphael Viviani. Nervoso, mandou alguns amigos aplicarem uma surra no suposto ladrão. O problema é que esses seus amigos eram policiais do DOPS, o órgão de censura, repreensão e tortura da ditadura militar.
Depois da história vir a tona, não demorou muito para que o nome de Simonal fosse associado diretamente à ditadura e pintado como delator pela imprensa. Daí em diante, Wilson Simonal foi rejeitado pelos próprios colegas, não arranjou mais shows, teve toda sua popularidade destruida, afundou-se na bebida e morreu praticamente no ostracismo.
Tudo isso sem que ninguém apresentasse uma única prova contra ele. Tanto que em 2003, 3 anos após sua morte, teve seu nome limpo pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a partir de um documento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos que informava que não existia nenhuma prova de que tinha cooperado de qualquer forma com a ditadura.

Em sua maior parte, o documentário tenta jogar um pouco de luz sobre o que levou um dos maiores nomes da nossa música a ser varrido para debaixo do tapete. O principal motivo seria um certo preconceito pelo fato dele ser um negro ostentando tudo o que havia conquistado, seja carros, mulheres ou o sucesso.
Mas o documentário deixa claro que a verdadeira culpada foi a arrogância e alienação política do próprio Simonal, que ao invés de levar o assunto a sério, costumava rir das acusações. Quando percebeu o buraco em que estava, já era tarde demais.
Depoimentos de gente como o pessoal do Pasquim (publicação de esquerda que pegou o músico pra Cristo e jogou seu nome na lama) e até do contador Raphael Viviani, pela primeira vez falando do assunto, mostram bem isso.
A parte final, com um Wilson Simonal esquecido e fragilizado, aparecendo em programas de segunda para tentar limpar o próprio nome, é de uma tristeza única. Nada lembra a figura carismática do passado, cujo lema era um "alegria, alegria" dito de modo, muitas vezes, irônico.

Mas está na primeira parte do filme o verdadeiro motivo de ser do documentário.
Seja nos depoimentos de amigos e dos filhos (os músicos Simoninha e Max de Castro) ou nos registros históricos, Ninguém Sabe o Duro que Dei faz jus à carreira de Simonal.
O dueto dele com a cantora Sarah Vaughan simplesmente faz com que a vontade de qualquer um seja levantar de sua cadeira e aplaudir. E digo isso sem o mínimo exagero.
Apesar de seu final nada feliz, são esses momentos que conseguem colocar um sorriso nos lábios do público, que dura até depois dos créditos terminarem, na lembrança das cenas que passaram.

É triste o fato de muita gente não conhecer aquele que, em sua época, tinha uma popularidade incomparável, maior até que a de Roberto Carlos.

Hoje ele ainda parece meio "maldito" nos meios de comunicação. A própria Internet ainda parece ter um certo receio de tocar no nome do cantor, tendo pouca informação para quem quer conhecê-lo.
O filme serve de esperança para que uma nova geração finalmente conheça e se interesse pela obra de Wilson Simonal.

Apenas sei que meus olhos marejaram nos últimos segundos de filme, ao som de Sá Marina:

"Roda pela vida afora
E põe pra fora esta alegria..."

Deixa cair, Simonal.

.

3 comentários:

Douglas Funny disse...

ainda está nos cinemas??

maldita semana sem tempo... mas preciso ver!!


abraço.

Renatinho disse...

Preciso MUITO ver esse filme!
Meu pai me conta coisas sobre ele, histórias que andam debaixo dos panos ainda, sobre entregar amigos também para a ditadura, não sei ao certo masss... ainda quero ver o filme xD

Abrass

Renatinha disse...

Me deu muita vontade de ver agora... =P