quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Retorno de Carl Barât


Mesmo com todo o sucesso dos Beatles, John Lennon costumava dizer que sua maior frustração era sempre estar musicalmente em segundo plano se comparado com Paul.
Dizia ele que, por mais que se esforçasse, toda a atenção do público e da crítica acabava se destinando às melodias e letras românticas do parceiro, a quem também eram reservados todos os "lados A" do grupo.
Durante toda a trajetória dos Beatles, a John se limitava o posto de "roqueiro rebelde", em contraste humilhante ao "gênio" McCartney.
Ainda assim, sem se deixar dominar pelos estereótipos impostos, Lennon criou em sua carreira solo obras como Imagine, Mother, Mind Games, Jealous Guy, Woman e mais uma porrada de músicas que foram devidamente reconhecidas com o tempo.

Carl Barât, essa é a sua vida!

Posso dizer sem sombra de dúvidas que Carl não é um músico tão talentoso quanto seu companheiro de Libertines, Pete Doherty.
Também posso dar certeza de que Carl não um letrista tão bom.
E muito menos tem metade do carisma do ex/atual parceiro.
Tudo isso ele provou nos álbuns da sua banda pós-Libertines, o Dirty Pretty Things.

Assim, torna-se imensamente difícil entender como o seu primeiro trabalho solo consegue ser tão BOM!!

Aposentando a parede de guitarras elétricas das duas bandas anteriores, o álbum - chamado simplesmente Carl Barât - finalmente mostra um compositor mais melódico, mais hábil em matéria de ritmo e mudanças rítmicas, com letras mais elaboradas em músicas que podem até ser chamadas de retrógradas para o que estamos acostumados a ouvir dele.
Se desprendendo do peso forçado que sempre teimava em colocar nas suas músicas, ele finalmente consegue se concentrar na harmonia entre todos os instrumentos, alterando até seu próprio vocal para algo menos forçado.
Músicas como as divertidas She's Something e Run With the Boys, a balada So Long, My Lover, a aparentemente minimalista What Have I Done, a soturna e instrumentalmente dramática The Fall ou a "radioheadlistica" e melancólica Shadows Falls apresentam um domínio que o Carl de antigamente nunca conseguiu apresentar.
No lugar das guitarras altas, da pose roqueira e da crueza forçada, uma sutileza rara nos músicos de hoje.

Confesso que não esperava nada deste álbum, ainda com a mentalidade deste post antigo que eu escrevi.
Talvez por isso essa uma das melhores surpresas do ano.

Continuo com a certeza de que Carl Barât não é tão bom músico quanto Pete Doherty, nem tão bom letrista, ou mesmo tão carismático.
Ainda assim, conseguiu criar um trabalho solo que supera com louvor o trabalho solo do seu companheiro.
E isso deve dizer muito!

Que venham os seus próximos trabalhos.
E que seja um melhor que o outro.

Quem foi que mandou elevar tanto as expectativas..?

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