quarta-feira, 18 de maio de 2011

Toque Dela


Por Brancatelli

Sim, o novo álbum do Marcelo Camelo, Toque Dela, foi lançado há mais de dois meses, e só agora ele aparece por aqui no blog.
Mas confesso, esse foi o tempo que eu precisei para começar a simpatizar com ele.

A primeira música lançada, "Ôô", já tinha se mostrado meio chatinha. Não era necessariamente ruim, mas simplesmente não dava vontade de ouvir de novo, falha fatal em qualquer música. Foi com essa cabeça que eu escutei o CD, no conforto do meu carro, e precisei parar na metade sob risco de dormir ao volante. Saí falando para quem quisesse ouvir que o CD era chatíssimo, um verdadeiro porre.
Dei outra chance alguns dias depois. Algumas músicas já começaram a soar melhor, e dessa vez fui até o final. Foi suportável, mas nada que me impulsionasse a ouvir de novo. E ele voltou ao meu porta-luvas.
A terceira chance foi bem melhor. Percebi algumas músicas bem boas, que inclusive dava vontade de ouvir de novo, e de novo, e de novo. Conseguia encontrar momentos bacanas inclusive nas músicas mais fracas.

E pronto.
Pouco a pouco, fui conquistado.

Não duvido também que essa tenha sido a intenção do músico.
Um álbum que não pede por uma ou duas audições, mas exige um esforço por parte do ouvinte, como já se acostumou qualquer um dos seus fãs, desde a época do Los Hermanos.
Você precisa se afeiçoar às músicas para entende-las e, assim, aceita-las.

Sorte que a banda Hurtmold repete aqui a parceria do primeiro CD, conseguindo elevar mesmo a composição mais simples do Camelo, fazendo cada música ao menos valer a pena pelo instrumental.
Ela é simplesmente perfeita, em todas as 10 faixas.

O mesmo não pode ser dito das 10 faixas em si.
"A Noite" e "Ôô", que abrem o disco, são bem descartáveis. "Pretinha" é daquelas que você precisa aguentar os constrangedores versos iniciais para chegar na parte boa.

Apesar disso, as outras se provam bem bacanas!
"Tudo Que Você Quiser" começa arrastada, e precisa ser ouvida com atenção para poder ser apreciada. "Vermelho" consegue empolgar, e "Meu Amor É Teu" foi uma ótima escolha para fechar o disco, apesar de repetitiva demais. Até "Despedida" consegue aqui uma versão muito melhor que a gravada pela cantora Maria Rita. E tem "Pra Te Acalmar", que poderia estar calmamente no quarto - e último - álbum do Los Hermanos (consigo inclusive imaginar a voz do Rodrigo Amarante cantando a música, se não com os Hermanos, com seu outro projeto, a Orquestra Imperial)).
E Toque Dela apresenta pelo menos duas músicas fantásticas: a deliciosa "Acostumar" e a épica "Três Dias", parceria com André Dahmer, criador das tiras e do site Malvados.

Com um material melhor e principalmente menos cansativo que seu álbum de estréia, Sou, Marcelo Camelo aparece aqui mais solto, mais à vontade, menos melancólico, coisa que inclusive se reflete em sua voz, melhor que nunca.
Deixando de lado as letras estruturadas dos seus velhos tempos, ele parte para a escrita intuitiva, favorecendo os sons das palavras acima do que significam, acertando em alguns momentos e errando em outros.. mas arriscando.
Se o CD anterior tinha o trunfo de algumas músicas já conhecidas, como "Liberdade" e "Santa Chuva", este faz jus ao talento criativo e melódico do compositor.
Sem contar os lindos arranjos de cada música, que por si só já garantem o disco.

Não é o tipo de trabalho que vai mudar a opinião dos que o detestam.
Mas certamente vai manter sua legião de fãs.
Da qual eu, orgulhosamente, faço parte.

Ainda que com algum esforço.

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